domingo, 13 de dezembro de 2009

DAS PROFUNDEZAS DO DANÚBIO AZUL


Levemente despertei de um sono profundo
Meu corpo pousado sobre o leito lodoso era vagarosamente levado para cima
O anestesiamento anterior era sucedido por uma profunda dor que aumentava mais e mais.
Enquanto era elevado, as águas saiam de meus pulmões
O pavor crescia a medida em que aumentavam meus sentidos.

Subindo, percebia meu corpo despedaçado, dor, muita dor
O que eu tinha feito?, havia motivos tão grandes assim?
Ascendendo lentamente, sentia o sufocamento,
E me debatia de medo das consequências do que eu fizera.
Ainda não acreditava que tivesse coragem de tão extremada iniciativa.

Sentia cada vez mais meus órgãos internos feridos pelo impacto.
Quanto mais me aproximava da superfície, mais turvos ficavam meus pensamentos
Já era possível ver a luz no alto a cada instante mais nítida.

O choque com a água foi tremendo
Senti meus pés explodirem de dor e uma onda de destruição transpassou meu corpo.
Em direção ao ar podia sentir o toque dos ventos contraposto a mim em queda
Suavemente levado mais acima era capaz de avistar a minha plataforma sinistra.
Neste momento não tive medo como imaginava, estava em paz.

Do alto, com os pés firmes, olhei o corredor de luzes que levava para a cidade
Em outra direção, o horizonte era escuro e sem esperança
Não estava certo do que ia fazer, mas estava ali para fazer.

Mas uma brisa suavizou meus pensamentos
Meus motivos que pareciam tão fortes
Já não pareciam tanto
Será que haviam apenas eles na minha vida
Naquele momento me pareceu que sim.

E de um impulso, me atirei em direção às luzes do horizonte
Despenquei inconsequentemente em direção à vida.